sábado, 1 de setembro de 2007

Edvaldo Santana - entrevista jornal Folha de São Miguel



Jornal: Em 1979 o MPA – Movimento Popular de Arte do qual você foi um dos fundadores levava música, teatro e poesia para as praças do bairro e foi um marco na história de São Miguel Paulista. Infelizmente após o fim do MPA não houveram outras iniciativas nesse sentido e hoje o bairro ainda não tem um teatro. Porque a cultura é difícil para a periferia?

Edvaldo - Realmente o MPA-"Movimento Popular de Arte",foi um dos mais importantes agrupamentos de artistas da periferia do Brasil.Pioneiro movimento que serviu de piloto para as criações de Casas de Culturas,Oficinas Culturais.Sua maior força estava contida na espontaneidade das pessoas que se aglutinavam em torno dele.A criação de formas alternativas de produzir e difundir a arte produzida na periferia para a criação de um público local,era dizer não ao controle da comunicação que estavam e continuam nas mãos de grandes corporações multinacionais, que servem principalmente aos Estados Unidos da América e sua maneira caótica de espalhar o capitalismo dominando e destruindo as manifestações culturais das nações novas.O MPA trouxe a alegria da poesia de Varal de Severino do Ramo,que fez as pessoas tirarem suas escritas da gaveta para exporem nas praças públicas suas idéias,trouxe os cantores e compositores para a roda de criação em shows em favelas,praças,escolas públicas,salões paroquiais,ruas.O MPA criou o grupo de teatro Periferida nome de uma canção que compus na época,criou cursos de música,teatro,dança,abriu espaço para todas as diferentes formas de produção cultural existente na periferia,comprovando na prática que havia e há uma interação e uma comunhão entre público e o artista que canta suas dores e suas alegrias.Uma de nossas maiores bandeiras era a construção de um Centro de Cultura com teatro, salas de ensaios e oficinas, estúdio, biblioteca, mas sempre esbarramos nos interesses dos políticos mal intencionados que estavam interessados apenas em buscar seus votos oferecendo promessas que nunca seriam cumpridas.Acredito que houve mesmo que insuficiente um avanço nas relações entre a comunidade e os órgãos de cultura,possibilitando o acesso a editais e recursos que antes não saíam das mãos de um pequeno grupo de artistas .Hoje há o Movimento Hip-Hop, os caras do Reggae,as entidades sociais,as escolas de samba e a cultura continua viva.

Jornal: Na trajetória de sua carreira o seu trabalho sempre foi elogiado pela crítica. Porque nem sempre o talento é divulgado para a grande massa popular?

Edvaldo - A música é um grande negócio para o mundo do entretenimento e portanto sujeita as regras do mercado. Por ser uma arte com potencialidade transformadora de comportamentos a música brasileira não deveria ser tratada como apenas um objeto de consumo descartável e sim como um símbolo cultural de seu povo.Esse papo que o público não gosta de música boa é chaveco, pois ninguém gosta de comida ruim,médico ruim.Precisa haver mais democracia nos meios de comunicação para que o público tenha acesso à diversidade e a riqueza da nossa música.

Jornal: A Periferia e o Subúrbio com freqüência fazem parte dos temas de seus trabalhos. É a voz do nosso povo?

Edvaldo - Meu pai Felix de Santana Braga me dizia que a maior honra de um homem é respeitar o povo e o lugar onde você nasceu e foi criado. Por que quando você respeita você aprende. Nasci assistindo injustiças e patifarias acontecendo ao meu redor e não poderia deixar de falar nas minhas músicas destas dificuldades que acontecem com o meu semelhante. Sou o canal de comunicação entre a arte e a vida, sou a antena da raça, quanto mais canto as dores e as alegrias dos meus camaradas, mais me aproximo dos deuses da arte. Quase tudo que sei aprendi na periferia, ela me alimenta e ilumina meu caminho.

Jornal: O seu CD “Reserva de Alegria” foi indicado para o prêmio TIM de música 2007 na categoria de canção popular. O que representa para você essa indicação?

Edvaldo - Representa muito, por ser um artista da periferia, filhos de pais pobres e nordestinos, que grava seus álbuns de forma independente, foi muito significativo estar indicado entre os melhores discos produzidos no Brasil e com certeza esse premio tão importante para a música brasileira, contribui para que a obra que desenvolvo seja divulgada no país e também no exterior.

Jornal: Suas músicas tocam com freqüência na Rádio USP, Eldorado e Cultura. Onde podemos ver o show “Reserva de Alegria”?

Edvaldo - Além destas rádios que você citou há ainda as comunitárias, educativas, universitárias. Estive recentemente no Rio de Janeiro, no Pernambuco, no interior de São Paulo, fazendo shows e divulgando o cd. Também me apresentei nos programas da Tv Cultura, (Ensaio, Sr.Brasil, Bem Brasil, Metrópolis), na Tv Unicsul. E para saber da minha agenda de shows é só acessar o site http://email.terra.com.br/cgi-bin/vlink.exe?Id=KS3Uk2GSc4sbnTczLf3fK0vGcCtoxVmVKm0ILDfb9RHP4SwFfehMBQ%3D%3D&Link=http%3A//www.edvaldosantana.com.br/

Jornal: Uma mensagem para os seus amigos de São Miguel Paulista.

Edvaldo - Quero agradecer a todos pelos ensinamentos e a paciência que sempre tiveram comigo, sei que os tempos são outros não temos mais os campinhos para jogar futebol e nem tempo para bater aquele papo na esquina. Sinto saudades da Escola Agrupadas e do D.Pedro I, onde estudei e namorei. Sinto saudades da lagoa Verde. Tem um refrão que compus junto com Roberto Claudino que diz, "Quem deixa a terra pensando ir para o céu, desaba do sonho e cai em São Miguel". Eu só tenho uma coisa pra dizer pra São Miguel Paulista, para os meus amigos e familiares, do fundo do meu coração. Gratidão...
Beto espero que tenha colaborado para a sua coluna, fiquei muito feliz pela lembrança e ser o primeiro convidado para esta entrevista
Um abraço pra você,Toninho e todo pessoal do Jornal
Edvaldo Santana