segunda-feira, 10 de novembro de 2008

De feira do livro a museu, a efervescência de São Miguel - O Estado de São Paulo

De feira do livro a museu, a efervescência de São Miguel


Bairro deve ter casa de vidro para apoio turístico e centro cultural orçado em R$ 5,4 milhões



Edison Veiga



Um dos bairros mais antigos de São Paulo, São Miguel Paulista, na zona leste, vive uma boa fase de efervescência cultural. A histórica capela que fica no centro do bairro, construída em 1622, ganhará um anexo chamado de “casa de vidro” e, a partir do ano que vem, deve se tornar um museu. Ponto de parada de bandeirantes, o Sítio Mirim será transformado em centro cultural. E a Feira do Livro de São Miguel Paulista, em sua terceira edição, atraiu 5 mil pessoas entre quinta e sábado.



Por falar em livro, acabam de ser lançados dois títulos com olhares sobre o bairro. Em Um Nordeste em São Paulo - Trabalhadores Migrantes em São Miguel Paulista, o historiador Paulo Fontes, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, busca reconstruir o cotidiano dos migrantes nordestinos que vieram para o bairro em meados do século 20.



Já o almanaque Um Olhar Sobre São Miguel Paulista - Manifestações Culturais, Ontem e Hoje é fruto de um trabalho da Fundação Tide Setúbal. “Foi feito pela própria comunidade”, conta o jornalista e historiador Mauro Bonfim, nascido no bairro e coordenador do projeto. “Durante dois anos, 60 jovens de 16 a 21 anos saíram a campo coletando depoimentos de moradores.”



Cheio de curiosidades, o almanaque será distribuído gratuitamente a bibliotecas e escolas públicas e ajudará a recuperar um pedaço da memória paulistana. Nele, há um panorama sobre a formação do bairro, que além de nordestinos recebeu imigrantes japoneses, portugueses e árabes. E histórias interessantes, como a de um movimento separatista que, nos anos 60, queria que a região se tornasse um novo município.



Acredita-se que São Miguel Paulista tenha surgido ainda no século 16. Em 1560, um grupo de índios guaianases - liderados por Piquerobi, irmão do conhecido cacique Tibiriçá, aliado dos padres jesuítas - se desentendeu com os colonos da vila de São Paulo de Piratininga. Eles caminharam por 20 quilômetros na direção leste e ali criaram uma nova aldeia, chamada de Ururaí.



José de Anchieta foi encarregado pela Companhia de Jesus de reencontrá-los. Ali chegando, batizou o povoado de São Miguel de Ururaí e mandou erguer uma capela de bambu e sapé. Em 1622, os jesuítas ergueram uma outra igrejinha, que até hoje fica na praça central do bairro. O prédio é original, apesar de ter sofrido algumas reformas no decorrer dos séculos.



Há dois anos, o templo - tombado por Iphan, Condephaat e Conpresp - começou a ser restaurado. Ao custo de R$ 5,6 milhões, bancados pela iniciativa privada, ficou pronto em junho e, a partir do ano que vem, deve se transformar em um museu, aberto à visitação pública.



A novidade é a construção de uma casa de vidro próxima da igreja. “Será um bloco de 80 m² que abrigará os serviços de apoio à visitação, como banheiros, recepção, guarda-volumes e administração”, antecipa o arquiteto Alessandro Pompei, responsável pela obra. A casa ficará sobre uma base de concreto, sem alicerces. Tudo para preservar o solo. “Achamos prudente não interferir nele, já que há muita informação arqueológica”, diz. O vidro foi escolhido para que não atrapalhe a visualização da quatrocentona capela.



Também tombado pelos três órgãos de proteção patrimonial, o Sítio Mirim, em ruínas, era ponto de parada dos bandeirantes nos séculos 17 e 18. A partir do ano que vem, o espaço deve ser transformado em centro cultural, com auditório, biblioteca e um salão para oficinas. “Vamos proteger as ruínas de um processo de degradação e aproveitar a área para lazer e cultura”, conta um dos arquitetos do projeto, Marcos Cartum. A previsão é que as obras, orçadas em R$ 5,4 milhões, comecem em 2009.